Santos e sua intercessão

 

Existência dos Santos e Sua Intercessão

A tradição católica apresenta os santos como pessoas que, pela sua vida de virtude e dedicação a Deus, são honradas pela Igreja e reconhecidas como intercessores junto a Cristo. O conceito de intercessão dos santos é muitas vezes mal compreendido e contestado por algumas seitas cristãs, mas encontra sólida fundamentação na Bíblia, na Tradição e no magistério da Igreja. Este artigo busca esclarecer e defender a doutrina da existência dos santos e sua intercessão.

O Conceito de Santidade

Na teologia cristã, os santos são aqueles que, por sua vida virtuosa e fiel, alcançaram a salvação e vivem na presença de Deus. Desde os primeiros séculos, a Igreja reconhece que alguns de seus membros viveram de maneira exemplar, em profunda união com Deus, e são dignos de ser venerados como santos. A santidade é, antes de tudo, um chamado universal: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2). Essa vocação à santidade está aberta a todos os batizados.
Além disso, a Igreja entende que os santos são pessoas comuns que, por meio de uma vida de fé, oração e serviço aos outros, corresponderam de forma plena à graça divina. Eles são modelos a serem seguidos, testemunhas do poder transformador de Cristo.

Base Bíblica para a Intercessão dos Santos

A doutrina da intercessão dos santos se apoia, primeiramente, no conceito de comunhão dos santos, uma crença central no Cristianismo que afirma a união de todos os crentes — vivos e falecidos — em Cristo. A Bíblia é clara ao mostrar que, após a morte, os fiéis continuam vivos em Cristo. Jesus disse: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá" (Jo 11,25). Isso indica que aqueles que morreram na fé permanecem em união com Deus e, portanto, podem continuar a orar por nós.
Em várias passagens da Escritura, vemos exemplos de intercessão entre os crentes. No Antigo Testamento, vemos Abraão intercedendo por Sodoma (Gn 18,23-33) e Moisés intercedendo por Israel (Ex 32,11-14). No Novo Testamento, Paulo pede orações aos seus irmãos na fé (Rm 15,30; Ef 6,18-19), reconhecendo o valor das súplicas mútuas. Se pedimos a intercessão dos nossos irmãos em Cristo que ainda estão na Terra, quanto mais não seria legítimo pedir a intercessão dos santos que estão na glória eterna?
O livro do Apocalipse reforça esta visão ao descrever os santos no Céu como participantes ativos na adoração de Deus e como aqueles que apresentam as orações dos fiéis: "Os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um harpas e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos" (Ap 5,8). Esta imagem mostra os santos no céu oferecendo nossas orações a Deus, atuando como intercessores.

Tradição e Magistério

A prática de venerar os santos e invocar sua intercessão tem raízes profundas na tradição cristã. Desde os primeiros séculos da Igreja, os fiéis já honravam os mártires e santos, pedindo sua intercessão junto a Deus. São Cipriano de Cartago (século III), por exemplo, escreveu sobre a comunhão com os santos e a eficácia de suas orações.
A Igreja Católica, através de seus concílios e documentos, sempre reafirmou a legitimidade dessa prática. O Concílio de Trento (1545-1563) declarou que "os santos, que reinam com Cristo, oferecem suas orações a Deus pelos homens; é bom e útil invocá-los com súplicas, e recorrer às suas orações, ajuda e assistência para obter benefícios de Deus" (Sessão XXV).

Adorar x Venerar

Na doutrina católica e na língua portuguesa, adorar e venerar têm significados distintos e não devem ser confundidos.

Adorar: É um ato exclusivo de culto a Deus. Envolve reconhecer a divindade e a soberania de Deus, rendendo-lhe o máximo grau de reverência e submissão. Na fé católica, somente a Deus Pai, Jesus Cristo e ao Espírito Santo se deve adoração (latria).

Venerar: É um ato de respeito e honra a pessoas santas, como a Virgem Maria e os santos. A veneração (dulia) reconhece a santidade dessas pessoas, mas não as eleva ao nível de Deus. Maria, por sua vez, recebe uma veneração especial chamada hiperdulia, por sua singular participação no plano de salvação.

Na língua portuguesa, o termo "adorar" pode ser usado coloquialmente para expressar gosto ou afeto ("adoro chocolate"), mas teologicamente, tem um significado mais profundo, que se aplica somente a Deus. Já "venerar" sempre se refere a um respeito profundo, mas sem caráter divino.

Por que pedir a intercessão dos santos se posso pedir diretamente a Jesus?

Pedir a intercessão dos santos complementa nossa oração direta a Jesus porque eles, como membros da Igreja no céu, rezam por nós junto a Ele. A intercessão dos santos reflete a comunhão do corpo de Cristo, onde todos os fiéis, na terra e no céu, se ajudam mutuamente com orações. É como pedir a um amigo para orar por você, mas com a diferença de que os santos já estão em plena união com Deus, o que fortalece nossas súplicas.

A Natureza da Intercessão

É importante esclarecer que os católicos não adoram os santos. A adoração é devida somente a Deus. O que a Igreja ensina é a veneração dos santos, ou seja, um respeito profundo e reconhecimento de sua vida santa. Quando pedimos a intercessão de um santo, estamos simplesmente pedindo que ele reze por nós, assim como pedimos a um amigo ou familiar que ore por nossas intenções. Os santos não são mediadores no sentido de substituir Cristo; pelo contrário, sua intercessão é uma participação no único mediador, Jesus Cristo, conforme ensinado em 1 Timóteo 2,5: "Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem".

Testemunhos de Intercessão

Ao longo da história, incontáveis testemunhos indicam a eficácia da intercessão dos santos. Milagres, curas e graças especiais são frequentemente atribuídos à intercessão de santos como São Francisco de Assis, Santa Teresinha do Menino Jesus, São Padre Pio e muitos outros. Esses milagres são cuidadosamente investigados pela Igreja antes de qualquer reconhecimento oficial, garantindo que sejam genuínos e que confirmem a santidade da pessoa envolvida.

Conclusão

A existência dos santos e sua intercessão são realidades profundamente enraizadas na fé católica, sustentadas pela Bíblia, pela Tradição e pelo magistério da Igreja. Ao venerarmos os santos e pedirmos suas orações, estamos, na verdade, expressando nossa confiança na comunhão dos santos e na graça de Deus que opera através daqueles que o serviram fielmente. Assim como pedimos a oração de nossos amigos aqui na Terra, também podemos pedir a intercessão daqueles que já estão na glória celestial, unidos eternamente a Cristo.